Desafio é tornar a Engenharia Geotécnica mais conhecida, diz Roger Frank
Internacionais
04/10/2013

Em passagem pelo Brasil para participar da 6ª Conferência Brasileira de Encostas (Cobrae 2013), o novo presidente da International Society of Soil Mechanics and Geotechnical Engineering (ISSMGE), Roger Frank, concedeu entrevista à e-ABMS. O novo presidente falou sobre os desafios da nova função, os planos para a entidade, que está presente em 90 países, e sua relação com a ABMS. Ele considera que um de seus principais desafios é tornar a Engenharia Geotécnica mais conhecida. "Precisamos nos comunicar mais com o mundo externo", diz Frank. Confira a íntegra da entrevista.
e-ABMS: Como se sente como o novo presidente da ISSMGE?
Roger Frank: É uma pergunta difícil e, portanto, devo dar uma resposta fácil (risos). Sinto-me confortável. Ainda não comecei o trabalho todo, efetivamente, mas é mais fácil do que imaginava. Eu já conhecia bem os mecanismos da Sociedade, porque estive no Conselho por oito anos - quatro anos como vice-presidente para a Europa e quatro anos como "appointed member" do ex-presidente Jean Louis Briaud. Um "appointed member" é um membro nomeado pelo presidente para ajudar o Conselho.
Após oito anos de Conselho, as funcionalidades técnicas são a parte mais fácil do trabalho. Posso ir direto aos outros assuntos e decisões. Mas o problema é como as pessoas me enxergam como presidente - ativo, inativo, ausente, presente. Eu não sei (risos). Isso será um mistério até o final, provavelmente.
e-ABMS: Quais serão os principais desafios da nova função?
RF: Meu foco principal é que a ISSMGE precisa ir para o mundo externo agora. Precisamos explicar quem somos e o que somos capazes de fazer para suprir as necessidades da sociedade civil. Acho que a sociedade não sabe o suficiente. Quando algo acontece ou alguma coisa é construída, apesar de a Engenharia Geotécnica ser muito importante, quem aparece na mídia nunca são os engenheiros geotécnicos, são outros profissionais. Isso prova que os engenheiros geotécnicos precisam mostrar que têm diversas competências importantes para a sociedade civil.
Em primeiro lugar, eu citaria os desastres naturais. Precisamos ser capazes de prever alguns desastres naturais. O papel da Engenharia Geotécnica é, certamente, crucial e as pessoas não sabem disso. Destacaria também a proteção contra a destruição causada pelo homem, como a poluição e outros problemas ambientais que podem ser amenizados pela Engenharia Geotécnica. Outra coisa que é muito importante, especialmente na Europa, é o problema de proteção e preservação de monumentos históricos, quando temos de fazer o 'retrofit', restaurar e reabilitar sem causar muitos problemas ao solo. Temos de mostrar que somos capazes de reparar as fundações desses monumentos de uma maneira muito segura. E isso também está nas mãos dos engenheiros geotécnicos.

Outro desafio é a comunicação. Precisamos nos comunicar com o mundo externo, com outros profissionais de nosso interesse - precisamos nos comunicar mais com associações ou instituições de engenheiros estruturais, engenheiros civis, arquitetos e todos esses profissionais que têm a ver conosco e geralmente nos conhece melhor do que outras pessoas. Devemos cooperar e decidir juntos as melhores medidas para a sociedade.
Outra coisa importante é, naturalmente, ter mais membros na ISSMGE. Quanto mais numerosos formos, mais forte seremos. Então precisamos de mais membros. Temos cerca de 90 países membros, o que significa que ainda há diversos países do mundo a serem alcançados.
Outro objetivo que tenho é dar mais destaque ao papel das mulheres na Sociedade Internacional. Vemos em todo lugar que as mulheres estão tendo papéis cada vez mais importantes na indústria da construção em todos os sentidos - na academia, na pesquisa, no projeto e na execução. Vemos cada vez mais mulheres, mas isso não se reflete dentro da ISSMGE, onde temos todas as cadeiras conduzidas por homens. Precisamos colocar as mulheres ali. Não apenas porque são mulheres, mas porque têm muita expertise e muito talento a mostrar.
e-ABMS: Quando decidiu se candidatar a presidente?
RF: Durante muito tempo, não quis concorrer à Presidência. Não estava preparado, precisava de um 'empurrãozinho'. E um dos países membros que me deu essa força foi a ABMS. Houve apoio também de países da Europa. A Sociedade Francesa, é claro, me apoiou bastante. E, não muito tempo antes das eleições, decidi concorrer. E estou feliz com isso! Sou grato a países como o Brasil que me ajudaram, de alguma forma, a ter a confiança necessária para me candidatar e chegar onde estou.
e-ABMS: Quais os planos para a América do Sul?
RF: Há muita coisa acontecendo no Brasil e nós sabemos de tudo graças à atuação efetiva da ABMS. O mesmo acontece com alguns países da América Latina, mas não com todos. Alguns deles são muito ausentes da cena internacional. Sei que há muita coisa acontecendo na América do Sul que não é levado para fora daqui, não é 'exportado' o suficiente porque os países membros não são ativos na ISSMGE. Então, conto com a ajuda do vice-presidente para a América do Sul, Jarbas Milititsky. Nossa principal tarefa é ter todos os participantes ativos e mostrando o que sabem - e eles sabem muito!
e-ABMS: Como o senhor enxerga a relação da ABMS com a ISSMGE?
RF: Excelente! A ABMS é muito ativa, sabemos o que está fazendo, a entidade organiza e participa de diversos eventos internacionais. As conferências são sempre impressionantes, com mais de 1.000 participantes! É fantástico! A ABMS é muito ativa não apenas no interior, o que é importante, mas também fora do Brasil. A relação da ABMS com a ISSMGE é perfeita! Não vi um único problema nos últimos oito ou mais anos, desde que conheço a entidade. A ABMS, como entidade, é muito ligada à ISSMGE, é um dos bons países membros. Tenho apenas de dar os parabéns.
E gostaria de encorajar meus amigos e colegas brasileiros a continuar no mesmo caminho que estão, sendo bastante ativos, dando esta importante contribuição à Engenharia Geotécnica mundial e mantendo esse entusiasmo que é tão agradável. Por favor, continuem neste caminho! E a ABMS é um dos países membros com os quais eu conto para me ajudar a desempenhar meu papel como presidente. Se tivéssemos apenas países membros como a ABMS, o trabalho seria fácil. (Risos)
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