Especialistas propõem integração entre indústrias

No dia 13 de maio, durante o Congresso Mundial de Túneis (World Tunnel Congress 2014), aconteceu a ITA Open Session, organizada pela Associação Internacional de Túneis e do Espaço Subterrâneo (ITA - International Tunnelling and Underground Space Association). Com o tema "Espaço Subterrâneo e Recursos Naturais", o evento foi especialmente focado na indústria de mineração. Foto: Dellana Wolney.
"As operações de mineração são sempre muito complicadas. Nas rampas e túneis de acesso, o uso de tuneladoras está se tornando padrão ao redor do mundo", lembrou Mark Diederichs, professor da Universidade de Queens, no Canadá. "Há muitas oportunidades e desafios. Tanto a indústria de túneis como a de mineração terão que se ajustar e se adaptar para encarar esses desafios".
"A mineração em superfície tende a acabar e a maior parte, hoje em dia, fica abaixo de um quilômetro. Como a mineração está diretamente ligada ao retorno financeiro, as respostas aos desafios têm que ser rápidas.
O desenvolvimento integrado e a complexidade dessas instalações rivalizam com qualquer tipo de obra", apontou o Diederichs. "Mas é importante destacar que empreiteiras de túneis vão estar em um ambiente que não controlam totalmente. É necessário, por isso, muita flexibilidade para responder aos desafios complexos. Nesse caminho, muitas oportunidades especiais devem surgir".
Além de Diederichs, participaram do debate Alexandre Gomes, membro do Comitê Executivo da ITA e presidente do Comitê Chileno de Túneis e do Espaço Subterrâneo, Yann Leblais, presidente da Associação Francesa de Túneis e do Espaço Subterrâneo e diretor global de infraestrutura da Arcadis, Jorge Baraqui Schwarze, gerente de Mineração Contínua da Codelco, Frode M. Nielsen, presidente da Leonard Nilsen & Sonner AS (LNS), e Sérgio Brito, presidente da BVP Engenharia.
Os especialistas defenderam a cooperação mútua entre as indústrias de túneis e de mineração. Uma tarefa árdua, mas que pode trazer benefícios para ambas as partes.
Frode Nilsen, presidente da Leonard Nilsen & Sonner AS (LNS), empresa líder da Noruega em escavação, defende o mesmo ponto de vista do colega canadense. "As indústrias de mineração e de túneis têm que aprender uma com a outra. É imprescindível a cooperação entre os dois conhecimentos tecnológicos, em questões como organização, conhecimentos geológicos, métodos investigativos, organização e cultura de trabalho", apontou Nielsen.
Sérgio Brito falou sobre alguns desafios que devem ser enfrentados pela indústria de mineração brasileira. "Precisamos ser mais competitivos nos projetos de minas de cobre. Outro desafio, ainda mais difícil, é tentarmos mineração subterrânea".
Quanto às oportunidades de sinergia entre as duas indústrias, o professor também é totalmente favorável. "A mineração é um laboratório em grande escala para o comportamento de rochas. E podemos aprender muito sobre o comportamento dos processos se juntarmos as duas atividades".
Apesar de achar importante a cooperação, Jorge Baraqui Schwarze não acha que esse processo de mudança será fácil. "Existe uma grande dificuldade nas mentes de quem trabalha com minas, temos que ter uma mudança cultural, revisar a relação contratual, explorar outras alternativas", afirmou. "Os desafios podem ser compartilhados nas duas indústrias, acredito que haja muito o que fazer em termos de trabalho conjunto. É possível somar esforços".
Fatores financeiros também são entraves para que essa troca de experiências seja feita rapidamente. "O setor de minas é muito conservador, com regras específicas, clientes privados. O retorno para o investimento é a chave. Muitas empresas possuem ações na Bolsa de Valores, o que é bem diferente de um túnel civil, em que as metas do mercado são antecipadas", aponta Yann Leblais. "Temos que ir mais rápido e mais fundo na mineração subterrânea e vejo uma série de oportunidades de otimizar estratégias nas duas áreas".
Atualmente, cerca de 80% da produção de minério são derivados de mineração a céu aberto. Uma mudança rápida nesta indústria está prevista para os próximos 20 ou 30 anos, por conta da diminuição de minério disponível em nível superficial, da necessidade de preservação do meio ambiente e do surgimento de novas tecnologias. Estima-se que 50% da produção de minério serão obtidos a partir da mineração subterrânea dentro de 20 anos.
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