Novo modelo geológico orienta a escolha de terrenos e o tratamento de fundações para empreendimentos na região de Cajamar SP
Estudos e Trabalhos
29/08/2011

NOVO MODELO GEOLÓGICO ORIENTA A ESCOLHA DE TERRENOS E O TRATAMENTO DE FUNDAÇÕES PARA EMPREENDIMENTOS NA REGIÃO DE CAJAMAR - SP
Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos ( santosalvaro@uol.com.br) Conteúdo Novo modelo geológico para a explicação dos fenômenos cársticos (vazios subterrâneos) na região de Cajamar - SP abre a possibilidade de mapeamentos geotécnicos preventivos e de sucesso no tratamento por injeção de caldas de cimento Introdução São já razoavelmente (mas não suficientemente) conhecidos da engenharia paulista os graves problemas geológico-geotécnicos advindos de feições cársticas (vazios, bolsões de solos muito moles e outras descontinuidades promovidos por dissolução da rocha calcária) nos terrenos metamórficos presentes no município de Cajamar - SP e região próxima. Os dois casos mais emblemáticos dessa tipologia de problemas foram o famoso Buraco de Cajamar, afundamento de grande expressão ocorrido em 1986 no bairro de Lavrinhas dessa cidade, e o comprometimento das fundações da moderna fábrica da Natura, no ano de 1999. O principal fenômeno cárstico de interesse da engenharia é o afundamento, brusco ou lento, de terrenos. Esses afundamentos, que podem destruir por completo edificações de superfície, colocando em risco patrimônios e vidas humanas, podem ter várias etiologias, com destaque para colapsos de teto de caverna (que pode estar a dezenas de metros de profundidade) e colapso do horizonte de solos sobreposto a vazios existentes no próprio interior do pacote total de solos de alteração de rocha (solos saprolíticos).O famoso Buraco de Cajamar, colapso ocorrido em agosto de 1986
O modelo antigo e o novo modelo
A partir dos estudos realizados pelo IPT a propósito do Buraco de Cajamar, adotou-se generalizadamente a hipótese pela qual os vazios encontrados na cobertura de solo (normalmente dezenas de metros de espessura) seriam originados da migração de solo para o interior de cavidades cársticas do maciço calcário são. Os novos estudos que tenho levado a efeito na região de Cajamar, com a realização de inúmeras sondagens diretas e indiretas em apoio a investigações geológico-geotécnicas para a instalação de grandes empreendimentos, um melhor conhecimento das peculiaridades fisiográficas do município e municípios vizinhos, numerosas consultas de dados de sondagens para empreendimentos vários na região, exame das pedreiras de calcário ativas e abandonadas, entrevistas sobre eventuais problemas de abatimentos de terreno e um melhor entendimento dos processos geológicos pretéritos de metamorfização ocorridos no Proterozóico Superior (idades entre 600 milhões a 1 bilhão de anos), conduziram-me a questionar a validade do modelo até então proposto levando-me a propor um novo modelo geológico-fenomenológico, o que traz conseqüências diretas para a abordagem técnica do problema. O novo modelo geológico apóia-se na hipótese de um comportamento físico diferenciado dos diferentes estratos sedimentares frente aos esforços metamorfizantes de compressão ocorridos no Proterozóico Superior. O banco calcário inferior, constituindo uma camada rochosa mais espessa e mais competente que as camadas superiores, teria oferecido uma maior resistência a esses esforços de compressão, o que a levou a dobrar-se menos que seus estratos superiores (vide croqui). No âmbito desse cenário geológico, especialmente na conformação de anticlinais (área formada pela crista das dobras), a base dos estratos superiores por certo teria sido "arrastada" sobre a camada calcária inferior durante os esforços de compressão/dobramento, em um processo semelhante a um nappe de charriage (superfície de arrastamento). Esse fenômeno explica a situação geológica singular da zona de interface entre o pacote de solo saprolítico (normalmente com 30 a 60 metros de profundidade na região), com rocha calcária sã. Essa zona de interface, com espessura média de 3 a 5 metros, exibe uma feição brechóide heterogênea, irregular e complexa, ou seja, uma composição e uma aparência física totalmente diversa do pacote alterado superior de estratos metamorfizados e a rocha metacalcária sã inferior. É justamente nessa zona brechóide de interface, adicionalmente muito exposta a variações do nível dágua, que têm origem e se situam as feições cársticas, bolsões de vazios ou solos muito moles, geotecnicamente preocupantes para a construção civil. De outra parte, os vales atuais em sua maior parte coincidiriam com anticlinais de grandes dobras metamórficas, situação em que, como se sabe (Geomorfologia Estrutural), há o aparecimento de fraturas apicais de descompressão que potencializam a ação dos processos intempéricos e erosivos, fazendo com que, paradoxalmente, um parte alta de uma dobra venha no futuro a geomorfologicamente corresponder a um vale. Os calcários na região são naturalmente margosos e/ou quartzozos. Assim, de sua dissolução química restam resíduos de "impurezas" que chegam a preencher totalmente, em menor condição de densidade, os bolsões calcários então dissolvidos. Essa seria a origem do material que resolvemos apelidar de "pó de café", um resíduo siltoso de um bolsão calcário dissolvido. Isso justificaria o fato desse "pó de café" constituir-se em um verdadeiro "marcador" para áreas dessa zona de interface que devam significar maiores preocupações geotécnicas.
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