“É preciso virar essa página triste da engenharia”, afirma Alexandre Gusmão, referindo-se aos anos recentes - ABMS
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“É preciso virar essa página triste da engenharia”, afirma Alexandre Gusmão, referindo-se aos anos recentes

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26/02/2018

O colapso de um trecho do Eixo Rodoviário de Brasília, no início de fevereiro, deixou evidenciado o estado precário de conservação das obras de engenharia no Brasil. O acidente aconteceu por falta de manutenção - um problema comum nas obras brasileiras. "É fundamental que haja a manutenção adequada para assegurar que os requisitos técnicos da obra sejam preservados ao longo de toda a sua vida útil", explica o engenheiro Alexandre Gusmão, vice-presidente da ABMS. "É preciso resgatar a verdadeira engenharia, incluindo os programas de manutenção das obras. Nós, geotécnicos, defendemos uma ampla discussão da engenharia (ou da falta dela) que se pratica em nosso país. É preciso virar essa página triste da engenharia". Leia a íntegra do editorial assinado por ele.   O recente desabamento de um viaduto em Brasília não é um caso isolado. Há inúmeros relatos, em todo o país, de obras de engenharia que apresentam problemas depois de construídas, obras públicas e privadas sem qualquer tipo de manutenção, que expõem a sociedade a inaceitáveis riscos de perdas humanas e materiais. É preciso lembrar que toda obra de engenharia deve ter sempre três fases: (i) concepção; (ii) construção e; (iii) uso e manutenção. Todas essas fases são igualmente importantes e devem envolver profissionais e empresas capacitadas. Há, no entanto, uma peculiaridade importante. Enquanto as duas primeiras fases duram um tempo relativamente curto, o uso e operação da obra podem atravessar dezenas de anos e várias gerações. É fundamental, por isso, que haja a manutenção adequada de modo a assegurar que os requisitos técnicos da obra sejam preservados ao longo de toda a sua vida útil. Os técnicos e gestores passam. As obras ficam. Com as obras geotécnicas acontece o mesmo. Elas também precisam de um plano de manutenção e intervenções periódicas. Muitas obras de contenção, por exemplo, falham por falta de manutenção dos sistemas de drenagem. Quantas barragens já construídas no Brasil estão em situações de risco de colapso? Quantas pontes podem colapsar por deterioração das suas fundações? Quantas rodovias estão imprestáveis ao uso por falta de manutenção dos pavimentos? A ABMS se solidariza com outras entidades técnicas que têm se pronunciado sobre o tema. Nós, geotécnicos, defendemos uma ampla discussão da engenharia (ou da falta dela) que se pratica no Brasil. É preciso resgatar a verdadeira engenharia, incluindo os programas de manutenção das obras. A geotecnia brasileira está plenamente preparada para essa discussão. Os nossos próximos eventos o Cobramseg, o Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia, o Simpósio Panamericano de Deslizamientos e o Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas, que serão realizados em Salvador entre 28 de agosto e 1 de setembro, serão ótimas oportunidades para essa discussão. Teremos a presença de renomados engenheiros e pesquisadores especialistas nesse importante tema. É preciso virar essa página triste da engenharia. Contamos com o empenho de toda a comunidade geotécnica para abrir este debate e evitar novas perdas. Até breve. Alexandre Gusmão Vice-presidente da ABMS

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