Evelyna Bloem Souto: uma trajetória de pioneirismo na engenharia geotécnica - ABMS
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Evelyna Bloem Souto: uma trajetória de pioneirismo na engenharia geotécnica

09/04/2024

Neste ano em que a atenção se volta ao reconhecimento das mulheres e suas inestimáveis contribuições em diversos campos profissionais, a ABMS coloca em destaque a figura inspiradora de Evelyna Bloem Souto, engenheira geotécnica e pioneira na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP). Essa iniciativa visa não apenas honrar a contribuição significativa de Evelyna, mas também inspirar jovens profissionais ao introduzi-los à sua extensa obra e realizações.

Evelyna Bloem Souto destacou-se como uma pioneira e eminente professora na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), além de ser uma engenheira renomada com significativas contribuições em prestigiadas empresas de engenharia, incluindo a Geotécnica, Promon Engenharia e GH Engenharia. Sua partida em 11 de agosto de 2017 deixou um valioso legado no campo da engenharia geotécnica.

Ela fez história ao ser a única mulher em sua turma de engenharia civil na USP em São Carlos, em 1957, superando inúmeros desafios e preconceitos ao longo de sua carreira. Sua trajetória acadêmica começou na Escola Politécnica da USP, em São Paulo, antes de se transferir para o curso de Engenharia Civil em São Carlos.  Seu pai, professor Theodoreto de Arruda Souto, catedrático da Escola Politécnica da USP, foi o primeiro diretor da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC- USP).

Com um compromisso inabalável com a Engenharia, Evelyna marcou presença em mais de 60 congressos internacionais, recebendo diversas bolsas de estudo para pesquisa em universidades de renome, incluindo Harvard. Após concluir a graduação, dedicou-se à academia, conquistando o título de PhD e lecionando Geotecnia na EESC USP e em outras instituições até sua aposentadoria. Casou-se com o professor Araken Silveira, seu colega de turma e distinto professor e PhD da Escola de Engenharia de São Carlos.

Evelyna enfrentou e superou o preconceito de gênero em diversos momentos de sua carreira, inclusive em situações extremas que exigiram dela se disfarçar de homem para acessar um túnel entre França e Itália que estava sendo construído na época. Sua perseverança também a levou a superar barreiras institucionais, inicialmente sendo relegada ao papel de bibliotecária ao contribuir para a criação do Departamento de Geologia e Mecânica dos Solos, até finalmente ser reconhecida por suas competências técnicas e liderança.

Em sua profissão, Evelyna contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da Escola de Engenharia de São Carlos, desempenhando um papel fundamental em sua instalação, estruturação e consolidação, ajudando a estabelecer a instituição como referência nacional em Engenharia.

Em 1958, a engenheira foi trabalhar na empresa Geotécnica, na cidade de São Paulo, com o professor Victor de Mello e o engenheiro Odair Grillo, o primeiro engenheiro geotécnico do Brasil, e ex-aluno do professor Arthur Casagrande (1936- 1937) em Harvard. O engenheiro e professor Paulo T. Cruz foi colega de Evelyna neste período, antes de viajar para os Estados Unidos e frequentar seu curso de Master of Science no MIT/ HARVARD.

Além das atividades acadêmicas, Evelyna chefiou a diretora de engenharia de infraestrutura da Promon Engenharia, onde dirigiu projetos de grande envergadura como as Barragens de Taiaçupeba (DAEE), Piraquara, Água Vermelha e Três Irmãos (ambas da CESP) e Estações da Sé, República, Angélica, Santa Cecília e trecho em shield Sé-Arouche do Metrô de São Paulo.

Em 1979, deixou a Promon junto com o geólogo Milton Kanji e o engenheiro Fernando Fortunato, e fundou a GH Engenharia.

Na GH, enfrentou outros desafios, como o projeto das fundações de tanques de petróleo na Ilha Barnabé (Porto de Santos), os aterros sobre solos moles pré-adensados na Baixada Santista, as fundações da Subestação Guarujá da CESP e o programa de perenização de tráfego em estradas rurais.

Nesse tempo, Evelyna foi vice-presidente do Instituto de Engenharia e ensinou o valor do associativismo na militância profissional.

O professor Victor de Mello tinha muito apreço pela professora Evelyna. Mantiveram contato durante toda sua carreira, iniciando pelo período na Geotécnica e se estendendo aos períodos na Promon, onde o professor era consultor, e na GH, discutindo tópicos de interesse mútuo. 

 “A professora Evelyna Bloem Souto foi o exemplo eficaz no exercício desta maravilhosa profissão de engenheiro empreendedor. Sempre tenho presentes dois ‘mandamentos’ que ela mencionava e postulava como necessários e suficientes: comercializar é mostrar o que o cliente precisa; desconfie de uma solução técnica rebuscada; a solução simples é a que tem valor”. - Depoimento do engenheiro Aluízio de Barros Fagundes, que foi ex-aluno de Evelyna e membro da equipe da PROMON e da GH. Também é ex-presidente do Instituto de Engenharia (2009-2010 e 2011-2012).

 

Nota:  Fontes de referência: Departamento de Geotecnia da EESC- USP, professor Paulo T. Cruz (in memoriam), e engenheiros Aluízio Fagundes, Manoel S. Freitas Jr e Luiz Guilherme de Mello.

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