Fernando Schnaid será o primeiro latino-americano a apresentar a James Mitchell Lecture

O professor e pesquisador Fernando Schnaid será o responsável pela próxima James Mitchell Lecture, conferência organizada bienalmente pelo Technical Committee 102 - In-situ Testing, da Sociedade Internacional de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ISSMGE). A edição de 2020, a ser proferida em Budapeste, na Hungria, ficará a cargo de Fernando Schnaid, que vai abordar os rejeitos de mineração na conferência intitulada
The Geomechanics and Geocharacterization of Tailings.
A palestra é uma homenagem a um dos maiores engenheiros geotécnicos da atualidade que, dentre muitas outras contribuições, foi responsável pela elaboração da investigação geotécnica realizada na Lua. A cada dois anos, um engenheiro de renome internacional é escolhido para ministrar a James Mitchell Lecture.
"Minha primeira reação ao receber o convite foi de muita surpresa!", conta o escolhido para a James Mitchell Lecture 2020. "Em seguida, claro, fiquei extremamente feliz e honrado".
Para ele, a escolha é o coroamento de um trabalho de cooperação entre diversos núcleos brasileiros e reflete a qualidade da pesquisa realizada no país. "A escolha do meu nome representa o resultado do trabalho conjunto de pesquisas na área de mineração, da alta qualidade da pesquisa que é feita no Brasil. Pesquisas que têm como objetivo dar uma resposta às necessidades da indústria de mineração, de forma segura e sustentável. Acredito que isto seja um reflexo do reconhecimento internacional de que a contribuição brasileira tem sido efetiva e deve ser divulgada em uma palestra dessa dimensão".
A James Mitchell Lecture 2020 será proferida durante a 6th International Conference on Geotechnical and Geophysical Site Characterization, que acontece de 7 a 11 de setembro de 2020, em Budapeste, na Hungria.
Saiba mais sobre o histórico da James Mitchell Lecture.
O tema da James Mitchell Lecture 2020
"Os rejeitos de mineração são hoje um problema internacional", destaca Schnaid. "A ideia, na palestra, não é abordar nenhum acidente, mas falar sobre o comportamento geomecânico de rejeitos, abordar o assunto de uma maneira mais ampla, conceitual, discutir qual é o problema e como ele deve ser tratado, quais são as técnicas que podem ser adotadas, se elas podem ser aplicadas a rejeitos, quais são as limitações".
Fernando Schnaid atua há mais de 15 anos em pesquisas na área de mineração, mais especificamente em liquefação de rejeitos. "Temos trabalhado muito intimamente com todos os setores envolvidos na indústria de mineração para trazer um pouco desse conhecimento acadêmico para as áreas de projeto", conta.
Em relação às barragens de rejeitos, especialmente aquelas com método construtivo com alteamento a montante, ele acredita que o mundo inteiro esteja se deparando com estruturas de uma dimensão única, nunca antes projetadas. "São barragens com mais de 100 metros de altura e que estão demonstrando desempenho inadequado no Brasil e no mundo", ressalta o pesquisador. "O desafio internacional é retomar projetos seguros sob o ponto de vista ambiental e humano".
Quando as barragens hoje em atividade começaram suas operações, o comportamento geomecânico dos rejeitos não eram conhecidos. "E continuamos não conhecendo esse comportamento em toda a sua complexidade", explica Schnaid. "Começamos a aprender um pouco mas, ainda assim, passamos a ser surpreendidos com características de comportamentos não consideradas em projetos, como a liquefação de rejeitos".
Os rejeitos de mineração compõem uma questão extremamente complexa. No Brasil, por exemplo, o PIB depende da indústria de mineração e, portanto, é de suma importância a compreensão das causas dos acidentes para que eles não continuem acontecendo. "É neste contexto que a palestra se insere. Meu objetivo é mostrar a complexidade do comportamento de rejeitos de mineração, como é possível mitigar os problemas que já existem e o que é preciso mudar em termos de projeto. Tudo isso tem que ser discutido a nível mundial para que a sociedade decida quanto aos risco tolerados, se quer alterar esse tipo de produção, os custos", conclui o palestrante da James Mitchell Lecture.
Fernando Schnaid
Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, possui mestrado em Engenharia Civil pela PUC-Rio, doutorado em Ciência de Engenharia (PhD) pela University of Oxford, na Inglaterra, e pós-doutorado pela University of Western Australia.
É professor titular aposentado da UFRGS, mas ainda ministra aulas no programa de pós-graduação em Engenharia Civil na mesma universidade. É ainda pesquisador 1A do CNPq e consultor geotécnico pela empresa Analysis Consultoria. Saiba mais em
http://fernandoschnaid.com.br/home/.
Temas relacionados: